Aquilo que somos

Há dias conheci uma senhora que parecia mais velha do que eu (bem mais velha) e que, em conversa sobre "ter ou não filhos", confessou-me: «Sim porque quando nós chegamos à nossa idade temos de começar a pensar em ter filhos. É agora ou nunca.» Congelei com o "nunca" e, de uma forma simpática, tentei explicar-lhe que, apesar de já ter de pensar nisso, ainda só tinha 33 anos. Ao que a "senhora" me responde com o ar mais natural do mundo: «Sim, e eu também!» Fiquei para morrer. Não queria acreditar. Eu era tão senhora quanto aquela senhora e não tinha noção? Depois pensei que talvez a senhora estivesse muito acabada para os 33 anos.
Dias mais tarde, uma amiga pôs uma fotografia minha no blog dela. Todos os comentários sobre essa foto falavam de uma "woman" ou de uma "mulher". A "woman" e a mulher era eu. Foi aí que eu percebi que tinha perdido de vez a noção da idade que tenho. Eu, que ainda me sinto uma miúda, que ainda me vejo como uma miúda, afinal de contas já sou uma mulher. Pior: uma senhora. Pelos menos para os outros.
Nesse mesmo dia fui à mercearia da minha rua e o rapaz que estava à minha frente disse para a dona da loja: «Sirva a senhora primeiro.» Olhei para todos os lados. Na mercearia não havia mais ninguém. A senhora era eu.
Agora volta e meia penso nisso. Principalmente quando me olho no espelho e vejo "aquelas" rugas. Apetece-me gritar: EU NÃO QUERO SER SENHORA!
Um dia, a MJ - a filha da Tia -, que é altamente filosófica, disse-me chateada com a sua vida de 7 anos: «Pois é, ninguém quer ser aquilo que é, mas no entanto temos de ser aquilo que somos!» É verdade MJ: temos de ser aquilo que somos.