21.5.09

É triste, eu sei

Ontem deu-se-me uma maluqueira na cabeça e decidi fazer um jejum que a minha amiga NF costuma fazer uma vez por ano que consta em ficar três dias a beber um tal de um chá japonês que se chama Três Anos e água. Ao quarto dia come-se uma ameixa chamada Meboxi (que limpa tudo) e seguem-se então 18 dias de uma dieta de arroz integral com gomásio, salsa e tamari ou papas de flocos aveia com água (as vezes que nos apetecer).
Como sempre tive curiosidade por este jejum e como ando numa fase escaganifobética sem grandes trabalhos decidi fazê-lo.
De manhã preparei o tal chá Três Anos e escondi toda a comida que estivesse ao alcance da minha vista (houve umas uvas que me disseram "Bom dia!"). Às 11 assaltou-me ao pensamento torradas com doce de ameixa e queijo a ilha. Ao meio dia senti o cheirinho a café da minha Nespresso, mas continuei a beber o chá (horrível). Às duas da tarde já salivava a pensar em bacalhau à Gomes de Sá e em pasteis de massa tenra do Frutalmeidas, mas continuei a dar-lhe no chá.
Ao fim da tarde já só pensava em comida. Decidi sair para me distrair. Ir ao cinema parecia-me um óptimo programa. Fui ao jornal ver o que havia na Cinemateca: "O Almoço", do Naruse. Nem pensar. No King: "O Almoço de 15 de Agosto", "Mulher Sem Cabeça" e outro que não me lembro. Todos os títulos pareciam recados de Deus a dizerem-me para parar com aquilo. Ou seria o Demo a tentar-me?
Fui ver "A Mulher sem Cabeça". O filme era um grande tapa na pantera. A mulher tinha um grave problema de cabeça e, durante o filme todo, ninguém falava sobre o assunto, mas todos olhavam para ela com muita pena, como se ela estivesse condenada. Não se percebe muito bem o que a mulher tinha (o título diz-nos que não tem cabeça) e passamos o filme todo dentro da cabeça dela. (Para mim era Alzheimer ou uma coisa do género.) O filme perturbou-me. Saí do King desorientadinha de todo e a fome (não se deve chamar fome mas sim apetite) estava em alerta vermelho. Bebi mais chá que tinha levado numa garrafa.
Quando já estava no Metro para ir para casa recebo uma SMS do R.P. a dizer que estava com tal e tal no Chiado e se me apetecia ir ter com eles à Crew Assam jantar comida vegetariana. O meu coração pulou de alegria só de ler a palavra Crew Assam (imaginei-me na Benar sentadinha a pedir tudo a que tenho direito). Mas não cedi: ia ter com eles e ia ser forte o suficiente para vê-los comer. Quando já ia na Rua das Portas de Santo Antão ouvi o meu nome: "Érre!" (E aí pensei: será que sou eu?). Era o R.P. que estava sentado na esplanada de uma loja daquelas cheias de sandes de ovo e choco frito coladas à montra. Tinham mudado de ideias e decidiram comer à tuga. Eu olhei para aquela vitrine e quase que me vieram as lágrimas aos olhos. E pronto esta é a triste história da minha vida: tentar fazer jejum de dia e acabar a comer bifanas à noite.

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1 Comments:

At 1:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O jejum pode ser uma aventura de sensações estranhas que te põe em contacto com o teu corpo de uma forma nunca antes vista. A aventura pode ser gira ou não. Ninguém é igual. Para mim sempre foi motivo de divertimento e de conversa, como se confirma. Obviamente que o jejum é algo controlado, tens uma data para começar outra para acabar e conforme o tipo de jejum tens de preparar a tua vida e actividade para esse mesmo período. O facto da religião se associar ao jejum é óbvio: o controlo dos desejos aliado à lucidez de um corpo fisico e mental, tem tudo para ganhar e no final sentes-te mesmo um heroi.
3 dias de jejum só com chá, que é o que se assemelha a uma tarefa herculiana. Estes 3 dias vão limpar o teu organismo em reboot. Os teus orgãos internos vão aproveitar o facto de não estarem a trabalhar a toda a hora para se regenerarem. A tua lingua vai ficar branca durante este processo, a circulaçaõ do sangue fica a 100%!
Não fazer jejuns/fastings/detoxes grandes no Inverno ou no Verão, são aconselhadas as Primaveras e os Outonos de temperaturas mais amenas. Da especialista na matéria: NF.

 

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