10.3.08

Para o mai-belho-do-meio

Havia uma brincadeira, secreta e nocturna, enquanto a casa dormia. Mascarados de senhoras da alta roda, com os vestidos de sair da avó surripiados ao “armário dos segredos”, ficávamos horas na bancada da cozinha, bebendo Mokambo e fumando lápis Viarco - cujas caixas faziam de cigarreiras de ouro - a falar, muitas vezes num francês por nós inventado, do nosso dia-a-dia de mães de família e socialites. Os filhos que estavam nos colégios mais caros, os maridos que saiam para trabalhar com chouffer, as nossas compras na Loja das Meias, a última moda de Paris, os casacos de peles, as jóias da Branca de Brito, as férias na Curia ou no Luso, mais as empregadas feias e desesperadas que marcavam encontros com magalas no Jardim da Parada... Sempre umas «senhoras sérias», acabávamos revelando os nossos segredos mais inconfessáveis, cheios de amantes barões, maridos roubados às marquesas da canasta, bailes em que acabávamos debaixo de alguma mesa, condes invejados que só tinham olhos para nós... deboches relatados à razão da nossa imaginação. Foi, nessa altura, que eu e o C. nos tornámos inseparáveis. Cúmplices nas aventuras e naquela vida confinada a um primeiro andar de Campo de Ourique.

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1 Comments:

At 10:31 da manhã, Anonymous Anónimo said...

TOU SOZINHO AQUI. ISTO PARECE UM BURACO AZUL QUE TUDO SORVE E DEVORA... NÃO CONSIGO CHORAR MAIS... TAMBÉM TE AMO, SISTER... NÃO ME FALTES...

ass.. Nato mano

p.s. vem depressa...

 

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