8.4.08

Ataque de romantismo

«Afinal não há óvnis», está escrito no jornal. Apesar de eu ter acabado de conhecer um. As gaivotas sobrevoam as nossas cabeças. Já não há sol que nos queime a pele, apenas uns resquícios de raios que caem no rio. Os turistas pasmam-se com a vista. Tiram fotos com sorrisos alegres, mas aqui o sítio não está para alegrias. «I'm Yours. You're mine. Like Paradise», canta a Sade na esplanada. Destesto sítios com música, especialmente se temos o tejo e a ponte ao fundo. «Cala-te Sade! Não digas disparates.» Mas ela não me liga nenhuma. «I'm yours, your mine, like paradise», responde-me a sacana.
Está a ficar frio, mas eu não quero saber. Vou fingir que sou forte, tipo super-mulher pronta para tudo, nem que seja uma manada de zebras. E a chata da Sade não pára de me encher os ouvidos: «Is it a crime. That I still want you. And I want you to want me too»... que mentirosa.
O frio piora, mas o Adamastor nem pestaneja. Não há nada que o abale. Nem vento, nem trovões, nada. Uma andorinha voa sozinha. Terá ela chegado cedo demais? É certo que já é primavera, mas está tanto frio... ainda por cima chove. «Sitting here waiting for you. Would be like waiting for winter», continua a outra.
Um cão-de-água preto aparece de repente e começa a lamber-me os pés como se estivesse a perceber tudo. Acho que ele está com pena de mim e, pela primeira vez, não tive medo de um cão. «I feel like I am the king of sorrow, yeah. The king of sorrow» diz agora a chorar, não a cantar. Porque choras? Que chata, pára com essa mania do drama e da tragédia! «Keep trying for you. Keep crying for you. Keep flying for you. Keep flying for you. I'm falling»... e pronto, deu-lhe para ali.
Desisto de tentar ler o jornal. De lutar contra o vento que insiste em empurrar-me as páginas do suplemento de economia como quem diz: «Vá lá, despacha isso! É tudo uma seca!» A Sade já está mais calma. Segreda-me ao ouvido histórias de amor inventadas: «As i reveal my shame to you. I wear it like a tattoo».
As nuvens viajam a 300km hora. As luzes da cidade acendem-se de repente. As pessoas caminham apressadamente como nos filmes mudos. Só eu e a andorinha é que parecemos estar nas rotações correctas ou erradas, depende da prespectiva. A luz é tão bonita quando a todo o custo tenta furar uma nuvem... O frio está quase a demover-me. «Sai daqui!«, diz-me cheio de prepotência. Tudo a tentar tirar-me dali. Mas não consigo. Estou apaixonada por este quadro vivo que é Lisboa, o tejo e nada... «If you were mine. If you were mine. I wouldn't want to go to heaven».

Etiquetas:

2 Comments:

At 4:53 da tarde, Blogger 1de30 said...

«O que aqui vai de água!»: O vento nos céus cinzentos, o melancólico mar e aquela costa que vai sempre morar dentro de mim… eu sinto saudades de todas elas como do ar húmido no meu rosto...

 
At 6:55 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Tu dás cabo de mim TS! R......em godés.......

 

Enviar um comentário

<< Home