31.5.08

O “nosso” woodstock

Tudo encenado. Tudo ensaiado. Tudo pensado. O atraso. A voz rouca. As desculpas. Addicted, a primeira música. O cair dos saltos altos. A ligadura no pulso. O corte no braço direito. As nódoas negras no pescoço. O lenço na mão. O palco às escuras entre músicas. As rábulas com a banda. Conversas desconexas. Lágrimas em love is a losing game que borram o eyeliner e mancham a cara. O microfone que não consegue ajustar. O cone de prata no decote. Ela naquele vestido, quase infantil. O coração no cabelo, Blake – o nome do marido. A guitarra que não tocou. A tatuagem que insistem em “zoomar”. O copo – sempre cheio – de um líquido amarelo, com limão. Os ajudantes de palco que reabastecem. A rouquidão que desaparece. A música magistralmente encenada ao ritmo de picos de adrenalina e depressão. Ecrãs gigantes em dessincronização. A voz gutural dos cds que se perde naqueles quilómetros quadrados, a céu aberto. Cem mil pessoas. A decadência humana, o declínio, a ferida aberta – a impotência – no Palco do Mundo. Rehab. Dançam, conversam, riem muito alto. Gozam. Amy Winehouse não desilude. Os clichés todos. Uma novela da TVI. Um filme da Disney. Peter Greenway. Valerie. A imagem final que fica no telão é de um quase desmaio no backstage para os braços de alguém. Não, não há encores. O cachet é o mesmo. Fim do espectáculo. Tudo encenado. Tudo ensaiado. Tudo pensado. Fake. Amy Winehouse vomitou-nos em cima.
Nós merecemos.

Etiquetas: