Angústias de uma patinadora russa do circo zen

Voz do apresentador: "Senhores e senhoras apresento-vos NIKITA, A PATINADORA RUSSA". Palmas. Nikita entra no ring. É pequena, desengonçada. Vestido curto e justo de lantejoulas pretas. Rabo de cavalo. Sorri. O apresentador continua: "Atenção, Nikita prepara-se para mais um número arriscado de equilibrismo precário fazendo uma tempestade num copo de água". Palmas. "Nikita: concentra-te. Lembra-te que já perdeste muitas vidas ao fazer um número assim. Palmas para Nikita." Mais palmas. Silêncio. Som de tambores a rufar. Nikita respira fundo em frente ao copo de água. O som dos tambores exasperam-na mais do que nunca. Nikita sabe que está a viver um momento único arriscando a sua vida. Nikita está nervosa. Nikita está consciente do perigo que corre. Nikita concentra-se e diz para as suas lantejoulas: "Vai,foda-se", mas não consegue mexer um dedo sequer. Silêncio constrangedor. Os tambores não param de rufar. As pessoas na plateia olham umas para as outras incomodadas. Nikita sente a tempestade aproximar-se por isso vestiu-se especialmente de negro para este número. A voz do apresentador de circo dentro da cabeça de Nikita parece estar debaixo de água: "Nikita estamos à tua espera para te estatelares redondamente no chão". Palmas. Silêncio. Rufos. Nikita está congelada, não consegue reagir e desaparece.

(E pronto, foi este o meu primeiro sonho do ano. Não sei o que esperar de 2010. Vou já ouvir a MIA em repeat).