Aos homens

Homem, homem, quem ousou fazer-te assim tão belo. Tão desejável. Tão bonito. Inspirado. Se soubesses como te desejo, homem, quando passas por mim e te olho com estes olhos de comer. Como carne, no prato, coisa de lamber. E como imagino o teu abraço, e os teus braços, amassos, suspiros... o teu rabo. Como adivinho os teus músculos, o teu domínio. O teu movimento lento ou apressado. Homem. Homem. Duro, teso, desenhado. Músculos, pernas, coxas, a batata do braço. Os ombros, o queixo, a nuca. Corpo a corpo. Corpo no corpo. Boca fresca. Beijos molhados. Maçã de Adão. Para cima e para baixo. E passo a mão. Apêndice xifóde. Tensor fascia lata. Cheiro de suor. Cabeça. De boxers, calças, pelado. De ténis, havaianas ou sapatos? Descalço. Safado. E não, não te quero perfeito. Quero-te inteiro. Guloso. Quero-te para mim. Como um estalo, um vício, um baseado. Assim, sem preguiça, sem entraves, sem vergonha. Com vontade. Não te quero falar, ouvir graças ou as tuas taras. Nem a tua inteligência, teu trato ou teu retrato. Quero-te como um corpo. Como um todo, um encaixe. Um corpo no meu. Não te quero valente, bravo. Raro. Quero-te. E ao teu sexo duro, o teu orgulho. Quero sentir-te. Abocanhar-te. Desejar-te. Sentir a tua vontade. Gozar-te. Lamber. Chupar. Comer. Não, não quero um filho teu. Nem os teus segredos. Teus planos. Já plantei uma árvore. E não quero o teu amor. Não quero amar-te. Quero-te, e como coisa de comer. Coisa de se querer. Coisa fácil. Neste momento. Nesta praça. Nesta praia. Na areia quente. À noite, à chuva. De pé, de lado, abraçados. E tu passas. Sem rasto. E eu vejo-te passar. Como fémea e tu macho. Iguais na vontade, no desejo. Como animais.