27.5.07

"Is life treeting you good?"

Sábado, final da tarde. Outono em Maio. Nada de interessante para fazer. A minha vizinha Elle desencaminha-me para irmos a uma festa a casa do Ex. "Anda lá! Não é muito longe das nossas casas, podes voltar a pé quando quiseres". Acabei por ir, quase por arrasto, cheia de preguiça dentro da minha pessoa.
Na festa só pessoas que eu não conhecia com conversas sérias e eu sem nada de interessante para dizer.
"Vamos beber." "Bora dançar", insistia. "Red Bull com vodka é que é bom!", sugeria. A Elle mandava e eu obedecia. Eu estava sem poder de decisão nenhum.
Quando estava mesmo para desistir da festa e ir a pé para casa, surge de repente na "pista" improvisada um dançarino possuído: Mário (Marinho pós amigos), mitra de Sacavém. Corpo tesudo, olhar malandro. "Relax, don't do it" dançava e cantava naquele inglês que todas nós sabemos.
Marinho "insfibrila-se" com a Elle. Elle dá-lhe para trás. Marinho "insfibrila-se" com todas. Todas dão-lhe para trás, mas todas gritam quando ele abana a anca e aponta para o céu. Sempre que se aproxima de uma miúda tenta dançar em estilo "lambada". Sem efeito. Marinho estava na festa errada: um mitra de Sacavém que diz "amandar" numa festa de pessoas com conversas sérias não rima. Mas Marinho não desiste e assim é que é! A noite é dele. Bebe Bacardi Lemon. Faz a boquinha do Martini man. Já está muito aceso. Está possesso. Não pára de dançar. Mexe todos os músculos do corpo. Marinho pode não saber falar, mas sabe que tem um corpo tesudo. E é por aí que ele investe.
Rúben Miguel, amigo de Marinho, tenta dançar como o bailarino, mas desiste logo. É muito andamento. Marinho tem o ritmo e o Bacardi Lemon no sangue. "É aquele abanar da anca. É aquele jogo de cintura que "amanda" estilo", explicava Marinho ao amigo.
A festa termina com os vizinhos zangados. "Relax, don't do it".
Saímos todos a correr da casa do Ex. "Vamos para o Bairro", sugere a Elle que, como sempre, estava cheia de pica. As boleias organizam-se. Eu e a Elle nem hesitamos e entramos no carro onde Marinho estava sozinho no banco de trás a falar ao telemóvel. Elle fica no meio e num segundo Marinho fica colado a ela... assim como quem não quer a coisa. À frente vai o Rúben Miguel e um outro amigo que não me lembro do nome mas que devia ser do género. A música do carro era inenarrável. "Eu vou para casa", digo muito convicta para Elle. "Não vás R. que isto que estamos a presenciar é um estudo sociológico!" Claro que eu não fui para casa e é claro que rimos à gargalhada não fosse o Red Bull dar-nos asas e o Marinho conversa para a viagem inteira.

Ao telefone diz a uma miúda: "Estou com uns colegas e vou-me divertir! Olha, liga-me amanhã". A miúda falava e Marinho ficou algum tempo em silêncio. "Desenvolve...", dizia Marinho num tom aborrecido, rodopiando os olhos. Silêncio novamente. "Desenvolve..."
De repente Marinho, já sem paciência, diz-lhe que tem uma "chamada em segunda linha" e desliga. E era mesmo verdade: às duas da manhã Marinho tinha chamadas em espera umas atrás das outras. Todas em desespero a reclamarem por ele. "Marinho! Marinho!" O mitra nem tempo tem para desligar o telemóvel. Passa de linha em linha. Dá conversa a todas.
A certa altura atende uma das chamadas em Inglês. Naquele Inglês: "Mary how is you? My queen of the nigth!" O carro inteiro parte-se a rir. "Is life treeting you good?" O carro tem um ataque de riso. "Are you in Belfast? I miss you too, my angel". Foi um telefonema inenarrável. Eu e a Elle a certa altura riamos às gargalhadas e gritavamos: "Put the cream on!" Put the cream on!" As irlandesas estavam a ligar em grupo e passavam o Marinho umas às outras. Falou com umas três ou quatro e por fim desligou o telemóvel a dizer em tom de desabafo: "As bifas têm cá um andamento!"
Chegámos ao Bairro e é claro que voltámos logo de táxi para casa. O que é que estávamos a fazer ali afinal?! "Life is treeting you bad?"
Valeu a pena a viagem de estudo sociológico. Obrigada Elle. És a melhor vizinha do mundo!

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