R, vou confessar-te, nunca senti esse tal desse «relógio biológico». A sério. A dada altura apeteceu-me, mas sem grande entusiasmo. O candidato-a-pai é que tinha mais pressa e, nessa altura, dava. Tirei o diu, e sem stress fui tentando. Como não sou muito dada a projectos a longo prazo nem a minhocas na cabeça, ao fim de uns meses fui ao médico perguntar o que se passa. «Nada. Talvez uns exames e depois se via.» Desisti logo. Nunca mais pensei nisso. Quando me apetecesse muito logo trataria do assunto. E só uns seis anos mais tarde e com outro «pai» é que engravidei. Assim, de surpresa. Juro que não sabia e que não pensava nisso. Estava mesmo convencida que qualquer coisa lá por baixo não funcionava bem, e torno a confessar, não me precavia. E não penses que foi logo uma festa. Foi um enorme ponto de interrogação. Até porque era madrasta de dois muito pequenos (quando me juntei com o pai deles, um tinha quase um ano e o outro dois e pouco)... Não é que seja a mesma coisa, me desculpem, mas não é e nunca tive pretensões de ser mais do que sempre fui... a namorada do pai, vulgo madrasta. Mas dava para acalmar o tal relógio que não sentia e a família já ia longa. O pai da MJ estava no Brasil, e não lhe telefonei logo a dizer que estava grávida, tal era o tamanho das minhocas. Deixei passar dois dias, dois testes daqueles que se compram e uma análise na farmácia, para lhe dizer. E não em felicidade plena, mas mais em «volta que eu estou a precisar de ti». Depois de decidirmos ter a MJ (ainda bem, ainda bem, ainda bem), nunca mais houve espaço para dúvidas. Mas fiquei sempre com este peso. Um dia, também eu, irei contar à MJ que o dia em que soube que estava grávida dela, não foi o melhor dia da minha vida.
Agora tu, mulher, estás com o relógio a apitar, o teu velhinho também, queres, podes, de que estás à espera? Podes contar com as tias... Nós só nos arrependemos daquilo que não fazemos. Tudo o resto são minhocas e lugares-comuns. Quando se quer muito, deixa de ser «probrema».
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