Tpm
Há dias que não me apetece ser gaja. Sinto-me feia, gorda, vazia, sensível, bruta, horrível, sinto-me mal, à beira de um ataque de nervos. Nesses dias acordo de mau humor e ponho tudo em causa na minha vida. Tpm dizem os especialistas. A Maitena já fez de certeza mais de cem piadas acerca disso. Eu, como não sou a Maitena, fico-me só pelo mau humor. Nesses dias a roupa parece mais apertada, não há nada no armário confortável para eu vestir. Nesses dias não há tapa olheiras que me valha, nem banho que me deixe fresca.
Hoje foi um desses dias. Logo de manhã o X pergunta: "Queres torrada ou pão?" E eu só queria que as torradas se lixassem, que o pão se lixe, que o mundo inteiro se lixe, mas grito: "torradas!", para a coisa não ir mais longe. Respiro fundo. Faço uma pequena pausa e penso que isto é só do tpm, que dentro em breve vai-me passar e que tudo vai voltar à normalidade. A minha mãe telefona-me para me dizer coisas de família que eu não quero saber. Fico verde, azul, de todas as cores. Mas porque é que eu atendo o telefone nestas alturas? Desligo para a coisa não descambar. Estou quase a sair de casa quando ouço alguém a descer as escadas do prédio. Como uma paranóica fico colada à porta de casa à espera que a porta do prédio se feche. Nestes dias nunca me apetece fazer aquela conversa matinal com os vizinhos (nem todos são como a Elle). Para bem de todos.
Na paragem do autocarro as pessoas falam muito alto. Perto de mim um senhor começa a fazer barulhos nojentos com a boca. O autocarro nunca mais vem. Desisto e decido ir de carro. Que se lixe a poluição, o mundo não tem cura mesmo. Dentro do carro a música faz-me relaxar, mas logo a seguir encontro uma fila de trânsito. Sim, uma fila enorme provocada pela brilhante ideia de fecharem o Terreiro do Paço aos domingos para as pessoas que não trabalham aos domingos poderem ir passear, enquanto as pessoas que vão trabalhar aos domingos stressam meia hora numa estúpida fila de trânsito.
Ultrapasso os engonhados da frente. Nestas alturas de tpm os condutores da frente são sempre uns engonhados! Um polícia vem na minha direcção. Presumo que seja para falar comigo, mas eu finjo que não o vejo e discretamente aumento o volume da música tão alta que o polícia não se consegue impor. A fila anda. O polícia fica para trás com cara de parvo. "Eu vou trabalhar senhor polícia! Não vim passear para o Terreiro do Paço!", já tinha preparado o discurso e tudo.
Chego a casa ao fim de um dia que me pareceu mais gelado do que nunca e recebo uma notícia feliz. Faço um chá, meto o meu pijama mais quentinho e enfio-me no sofá com a manta. Há dias que não me apetece ser gaja. Há dias em que não me apetece ser nada.
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2 Comments:
E que notícia feliz foi essa? Quero saber tudo. [TS]
lol lol, nada de especial, quando souberes partes-te a rir. ;-) R
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