Talvez num outro blog

Pois é, tiraram-me a verve... Não posso dizer mal da prima M. que cheira mal dos sovacos [e há que sublinhar e começar a pôr iniciais, não vão as primas baralharem-se]; Não posso falar da tia pirosa e forreta que oferece pegas de cozinha (é pecado); Não vale gozar com as doenças, melhor, mania das doenças da família e muito menos com o cão (isso, então, é heresia); Dizer que o irmão é paneleiro... (erro, erro crasso, apesar do próprio ser o único a não se incomodar); Gozar com a própria, entenda-se a própria autora do post (too much umbiguismo, chamada da atenção exactamente para o oposto, o ridículo); Falar de sexo (pretensionismo, falta de graça, exagero e, melhor, brincar com o fogo, afinal o marido também lê); Postar fotos de pessoas feias (falta de espelho em casa); Postar fotos de pessoas bonitas (não ter nada para dizer); Falar de gajos (o vazio das ideias); Falar de gajas (inveja); Contar histórias da filha (despropósito); Enviar recados (por que não usar o telefone?); Falar das quintas (coitadas, reunião das tristes!); Falar de erva (armar em modernas, pior, endrogadas!); Criticar (ressabiadas); Elogiar (igual a dar manteiga); Falar de moda (futilidades); Falar de política (ignorância); And so on, and so on.
Vai daí, ando com problemas em escrever no blog. De que falar sem ferir susceptibilidades? Do tempo? Das estações do ano? De flores? Que grande chatice! Para não dizer que grande merda (que é malcriado). Pois não sei.
Tinha vários postes para postar: O da conversa com um amigo da R, na sua varanda, sobre flores e detergentes. Pois não posso. Gozo com o rapaz. O rapaz até é giro, até se quer «enturmar», mas para isso precisa falar de detergentes baratos e das plantas mais adequadas para se pôr num WC? Não, não posso postar, a mulher dele pode ler e é chato, já para não falar dele.
Tinha outro post sobre uma amiga de uma de nós. Uma self-made-women, super enérgica, com a mania que sabe tudo, desde as ruas circundantes e o nome dos cafés à lista das sobremesas e preços do restaurante onde nos encontramos – afinal, sempre trabalha por ali. Ela tem self-esteem. Aliás, ela é toda self-esteem. Tem é pouca sorte a escolher filmes... «a Corrupção quis fazer da Carolina uma prostituta arrependida!» Não vi o filme, conta mais, peço. «Eehh, e ahh, o realizador nem assinou, eeh, o Porto, sou do Sporting, errr... É melhor a gente irmos...» Tinha uma lista dos lugares comuns e das suas frases feitas, mas não pode ser, não posso postar, a rapariga pode ler... é maldade.
Tinha outro sobre o namorado de uma outra. Então não é que o rapaz deixou a gasolina do carro acabar e foi a própria da namorada quem foi tratar do assunto depois de uma semana à espera que o rapaz tomasse a iniciativa? Ai, ai, tinha várias coisas para dizer, do tipo «esse menino está a precisar de umas vergastadas, e a menina tome juízo, disciplina, há que disciplinar esse rapaz.» Pois este post também não posso escrever. É demasiado a armar. Que tenho eu a ver com a vida do casal? E o que é isso de disciplina? Por acaso o meu é disciplinado? E quem sou eu para pôr açaimes? Hum? Isto para não falar de outro post que tenho escrito, melhor, que a tia tem escrito, para as piquenas não racharem a conta do restaurante... Livra, era o que me faltava ter de ouvir femininistas ressabiadas mais a igualdade e o caneco... Ah, outro post era sobre um piqueno, bonito, independente, bem falante, inteligente... só qualidades, bom na cama até, mas completamente destituído de sensibilidade em relações humanas... Pois, também não posso.
Vai daí, olhem, não tenho nada para vos contar...