2.6.08

Um tia no Rock in Rio [3]

(cont...)

Deixaram-na e seguiram para os vips. Tinham sede. Não falavam muito, iam. Lá dentro só se falava do “espectáculo”. E falavam muito, e muito alto. Estava tudo certo, estavam ali para se verem, para se deitarem naqueles enormes puffs brancos e ouvir. Ouvir, apenas, espreitando, de vez em quando, para o ecrã mais próximo. Na bicha foram várias vezes atropeladas. Mas lá conseguiram chegar ao balcão das bebidas. «Ó senhor Zé Pinto daquela banda com pontapés, não se meta à frente da tia», pensou enquanto lhe media o rabo. Ele leu-lhe os pensamentos, olhou-a. «Primeiro as senhoras», disse a tia. Trombas, fez ele. «Malcriado!» Uma pita muito moranguita e toda cor-de-rosa pede-lhes: «Podia passar-me aquela palhinha, por favor?» Tia e amiga miram o copo das palhinhas... «qual especificamente?» Deu para rir.
Ficaram a mirar os vips, a rir de outras coisas, outras coisas. E comer sobremesas. Havia muita adrenalina para libertar. Estavam tensas, tia e amiga. Dirigiram-se para o Lenny. «Está gordo o piqueno!» – primeira impressão. «E chato comó caralho!» – segunda impressão. As tias dizem palavrões, já disse. «E que raio de merda é esta, viemos cá para te ouvir, não para ouvir o homem da corneta.» Em volta o ambiente era outro. Beijos apaixonados, pessoas deitadas na relva, mais velhos a curtir os solos de guitarra e da “corneta”. Deram por si a conversar. Conversar de coisas de nada. Decidiram ir embora. «Ó Lenny, vai levar no Kravitz.»
O trajecto até à ao carro correu sem apontamentos – vip. Decidiram ir cear ao Galeto. «Aquele hambúrguer com batatas.» Demasiada luz. Barulho de talheres. Pessoas, muitas pessoas, a comer, a deglutir, a fazer barulhos, a sorver cerveja. Um empregado em ruptura, que se atrasava e baralhava os pedidos. Isto numa altura em que já era quase impossível à tia disfarçar o enorme buraco que sentia na garganta e que lhe roubava a voz. Não lhe apetecia falar. Deixou a amiga em casa, muito longe da sua. Ainda bem. Ia saber-lhe bem a “viagem”. A janela aberta. Os cigarros fumados com calma. Auto-estrada. Apetecia-lhe seguir em frente, sempre em frente, para onde? Não sabe.

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1 Comments:

At 8:03 da tarde, Blogger Paulo said...

Tia, tia, os americanos é que têm razão. Fumar faz mal, pode servir de fluoxetina, mas na manhã seguinte deixa-lhe de "recordação" uma tosse do diabo, para não utilizar outra palavra mais apropriada, e com um catarro de tuberculosa. Mas tudo isso é VIP, mais barriga, menos barriga, mais galeto, menos galeto, é deixar correr e seguir sempre em frente. Pensar muito faz também muito mal à saúde, não sabia?... :)

 

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