30.10.07

Não tenho saudades, não

Não tenho saudades das taxas bancárias. Nem do preço dos frigoríficos; Dos crentes que batem o pé, se benzem e viram as costas a quem usa contas; De ouvir falar de dinheiro; Do stress nas filas. Ou de qualquer condutor; Do som alto; Das pilhas de garrafas de cerveja, em baixo das mesas da praia; Do sabor das batatas; Do ar condicionado nos cinemas; De carioca metido a besta; De acarajé; Dos deslumbrados com a «Óropa»; Do conservadorismo religioso; Da conscientização; Da maneira exagerada como falam com as crianças; Da banalização do verbo amar; Da celulite em asa delta; Do Terceiro Mundo como queixinha ou desculpa; Dos detergentes para lavar a loiça; Da demagogia psicopedagógica; Do Pastel de Belém do Habib’s; De comprar euros; Das muriçocas; Da escova progressiva; Do light, Zero ou «sem qualquer coisa»; Das vitrines das confeitarias sem Bolas de Berlim, Jesuítas ou Ducheses; Da Feira de São Joaquim; Das «Promoções» e das palavras com mais de cinco sílabas; Da culpa do português de há 200 anos; Do hino difícil de entender; Do camarão com dendém; Dos saltos agulha com jeans apertados ou a bermuda com meia; Do hálito a cerveja; Da sensação de estar sendo enganada; E, sobretudo, dos que vendem a alma ao diabo por um cisquinho de nada e dos que nos fazem sentir na obrigação de «ajudar» na compra de uma tv, para tirar um som em doze vezes ou trocar de celular, apenas porque pagamos o INSS e o FGTS ou porque nosso CPF está limpo.

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