Casamento I
Ele já não implica com ela por não gostar de Corto Maltese, de se emocionar com Dali, Picasso não a comover ou odiar Klimt. Não suportar a Bjork, Leonard Cohen ou Cat Stevens. Já nem liga ela não decorar nomes ou números de telefone ou a recorrer à piada escatológica para evitar silêncios, principalmente, nos jantares em família. Já não lhe interessa que clássicos ela leu ou que prefira filmes do Vin Diesel a Jacques Tati para rir à gargalhada. Já não estranha que ela adormeça nos «Eleitos» ou nos Kill Bill. Que mexa nos pés ou ande descalça. Já não o entristece que ela não goste de flores, que não coma verdes ou tomate. Nem de como a música clássica não a acalme, pelo contrário, a enerve. Já não lhe interessa que ela o ame quando, finalmente, adormece, e que o odeie logo a seguir porque ressona. Despreza que ela lhe responda a elogios com troça. Odeia a sua resposta certeira, certa, como um alvo, e que o deixa sem palavras. Ou então, que não responda. Não gosta quando ela separa a cebola no prato, abra as suas panelas ou cheire os seus cozinhados. Não compreende que não atenda o celular porque não lhe apetece, só isso, sem outra explicação. Nem quando se cala durante horas, dias, semanas. Que durma até tarde, tarde das horas, meio-dia, uma, duas. Que passeie seus cigarros pela casa. E o que a incomoda hoje, não a aborrece amanhã. Estranha que não acredite nela... ou nele? Que tenha frio e não busque um casaco. Incomoda-lhe o sudoku e o comer na cama. E não aguenta mais que ela adie, sempre, e mais uma vez, não conseguir adivinhar o que ela pensa ou saber como vai reagir.
Ele não dá conta do quanto já não a suporta.
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1 Comments:
GLUPS!
Já enfiei a minha carapuça!!!
O freguês que se segue, por favor...
ass... ODOMEIO
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