2.7.08

Nestum e Tulicreme

Ontem fui à praia com a C. A C. está sempre maravilhosa. Até para ir à praia. Sempre maquilhada, sempre com as suas jóias, sempre loura platinada, sempre impecável. A C. é uma versão da Samanta do "Sexo e a Cidade" 10 anos mais nova. E quem a conhece concorda com a comparação.
Falámos de amor, amantes, sexo, paixão. Enfim, o que é que duas mulheres de trintas e tais - que já não se vêm há algum tempo - podem falar na praia onde, ainda por cima, se passeiam vários tamanhos de pilas? Estávamos no Meco, onde toda gente anda nu. Toda gente menos eu. Dá-me para isto: viro pudica na praia e mesmo tirar a parte de cima (coisa normalíssima) é muito improvável que o consiga fazer. Tenho de ter biquíni (e giro). Ainda por cima agora temos a mania da depilação brasileira e assim sendo não há de todo condições para me esparramar toda nua ao sol... (tenham dó)
Falei a tarde toda com a C. Eu de biquíni, ela toda nua. A C. é boa para falar de problemas. Ela é exactamente o contrário de mim: não existem dramas, nem tragédias, nem horrores. A C. parece que vê o mundo com lentes cor-de-rosa. E não estou a dizer que a C. é ingénua. Nada disso. Ela é simplesmente uma "cool". Nada a afecta. Não há stress que lhe chegue ao pêlo. Não há nada que lhe parece irresolúvel. A C. caiu no caldeirão da boa onda quando era pequena.
Falámos do P. Claro. Ao que parece as coisas começam a recompor-se aos poucos. A mulher dele continua a
ligar, mas agora em vez de berros e perguntas inacreditáveis - que deveria estar a fazer ao marido - fica apenas a respirar em silêncio. Imaginem a sociopata. O que vale é que eles moram longe. Se não temia o pior.
Falámos do filme "Control" (do Corjbim) que tínhamos visto, por acaso, há pouco tempo. Nesse filme a mulher do
Ian Curtis faz a mesma cena do telefone à amante dele. Concluímos que a mulher culpar a amante num ataque de ciúmes em fúria é um clássico da história da humanidade. "Coitadas, são pobres de espírito!", exclamava a C. num misto de desprezo e pena.
A culpa disto tudo, dizia a C. "são os homens mais velhos que se remoem com a culpa do catolicismo e fazem com que as mulheres descubram tudo". Segundo a teoria da C. "os homens depois dos trintas cristalizam e perdem a graça toda" e que "os miúdos até aos trinta", segundo ela, "são os amantes ideais". "Os miúdos estão sempre à descoberta, têm um mundo a explorar e não têm medo de nada". E remata assim: "e mesmo os que já estão perto dos trinta já podem estar estragadinhos!"
Eu parto-me a rir com a C. e com as suas teorias. Ela até pode ter razão, mas eu olho para eles (os miúdos) e só me lembro de Nestum e Tulicreme e não vejo nada de interessante num muído de vinte e tal anos. Está visto que o que eu gosto mesmo é de cabelos grisalhos e rugas expressivas à volta dos olhos - especialmente quando sorriem.
À vinda, como não queríamos ir logo para Lisboa decidimos comer qualquer coisa numa esplanada à beira-mar com sangria. Uns miúdos, que também vinham da praia, sentaram-se em tronco nú na mesa ao lado. A C. piscou-me imediatamente o olho: "Vês, estes é que vale a pena investir. Ainda por cima têm tudo no sítio". Eu olhei para eles e só me lembrei de Nestum e Tulicreme. Vou mas é dar em fufa.

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