24.7.08

Ah, bahias

Quem aparecer ouvirá, quem não for – esqueça. Não vou repetir. Logo à noite vou contar as histórias de Lailai, Alaíde Melo, candidata a vereadora da Periferia, cujo eslogan é «eu não quero que votem em mim, quero que botem em mim». Mais sua assistente Mércia que diz «com essa chapa ela vence». As duas únicas personagens hetero que conheci nesta Bahia. Quase mentirinha. Quase... Mércia quer mudar o nome do Beco da Emergência – a rua brega lá do sítio, a zona da luz vermelha – para Ajuda da Onu. «É preciso ter muita fome.» Duas duquesas mulatas, podres de boas e sempre prontas a dar. Histórias e mais histórias. A de Lailai em um motel perante um colosso de um metro e oitenta – esqueçam branquelos, Dona Lailai só gosta de «morenos» – «o bichinho de meio quilo de beiça lilás começa a tirar a roupa, todo sarado. Pior é que não tinha rola, pica ou pinto. Tinha pintinho mesmo. Eu morguei. Morguei, só podia. E quando ele me perguntou onde quer que coloque eu mostrei para ele o ouvido – o único buraco onde aquilo podia surtir efeito. Coloque aqui, aqui.» Já Mércia, em plena Ribeira, apanhou um metro e oitenta «de redentor». «Menina, fiquei entalada. Nem para cima nem para baixo. Abalante. Abalante.» Ou a história de Rubensildo, outra bichinha descolada, em pleno acto, com seu coadjuvante gritando «não coloca, não coloca», enquanto ele, ele já tinha colocado TUDO! Mais a história do professor Dominador das Dores todo ele um tesão não fosse repetir constantemente «jécicio», «agora é hora de fazer jécicios», brochante. Ah, e aquele moreno, todo bom, que passava a mão em nossos cabelos. «Ele é bichinha, mas é muito conservador», «ah tá» responde prontamente dona P, «você leva no cu e é conservador?» Ou da mãe que açoitava a criança, «burra, burra, plaf, pluft, a quem você sai, burra, agora escreva, C, A, Z, A, plaft.» Ou a história de Rafael Alexandre – O Indigente, um ano sem nome, um ano. Um bichinha pai-de-santo todo bonitinho. É, logo vou contar as histórias dos bichinhas todos que conheci nessa Bahia demasiado gay, nas saídas à Ribeira, Peri-Peri, à Off, ao Originalis, ao Beco dos Artistas, ao teatro Castro Alves ver as Terças Insanas, «dar eu dou, eu não sou é comida» gritava a louca do tpm. Vou falar da chapinha e das horas que elas levam a esticar o cabelo. «O meu cabelo!» Mais a moda do megahair. Cabelos falsos, mas lisos, lisos. Ah e a moda do créu. O créu. «Meu deus, o créu». Vejam no youtube os morenos a dançar o créu. «Jesus.» E o forró na rua, o samba de roda no Pelourinho. As bermudas, os calções, o chamar para beijar, os corpos malhados, as caipirinhas na praia. Créu. É só vou contar sacanagem, que é para isso que existem as quintas. E contar de Dona Suma Maria que quando não está a fim «dá a bunda». Dos novos «consolos» (leia-se vibradores), pequenos, pequeninos, de levar na mala para qualquer «precisão». É, vou só contar merda, micharia. Das saídas, das noitadas, de putaria. Para aqui para o blog deixarei a outra Bahia. A limpa e suja. Encardida. Feia até. Mas à qual me é difícil dizer adeus. A dos amigos como Eva – Evandro – dos serões em casa batendo papo, da humidade, do calor, das paisagens deslumbrantes, comoventes. Uma Bahia a que já não pertenço. Ou que não me pertence mais? Uma bahia cheia de desconhecidos. De corpos bonitos, cheirosos. Uma Bahia de gritos, de risadas altas, de fuxicos que não me dizem respeito. Coisas da vida, do dia-a-dia. De uma Bahia que não quis morar. Viver. Compartilhar. Ai, Bahia. Como ainda te amo. Teu cheiro de jabuticabas. Doce. Intenso. Enjoativo. Quase suor. Seus becos imundos. Suas casas feias, sujas. Seu desperdício. Seu mar revolto, porco, por causa do Inverno. A Bahia e os seus modos. Suas maneiras. Seu despudor. A que come de boca aberta. A que atira papel no chão. Você me avilta. Me xinga. Me faz snob. E você não usa talheres. Gaurfos, como lhe chama. Aquela Bahia mulher. Que me chama, me atazana. Faz minha cabeça. A que se engala. Não se esconde. Se expõe. Mostra a celulite. Seus altos e baixos. Suas peles caídas. A Bahia que faz a unha que depois suja. A Bahia da porra a toda a hora. Ai Bahia, como eu gostava não amar você. Mas essa Bahia, essas Bahias, eu posso contar. Vos contar. Aqui. Agora aquelas historinhas cheias de sacanagem, só logo à noite. E quem for, ouvirá.

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1 Comments:

At 11:04 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Não me esqueçam!
Não me ignorem!
Não me abandonem!

Dona Bahia está esperando vcs em Dezembro toda de branco vestida...

beijinhus

ass. ODOMEIO!

 

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