Estamos todas a chegar à «ternura dos quarenta» - adoro esta expressão, tão pirosa que podia ser um título de um filme de domingo à tarde da TVI, daqueles que dão para chorar, ou uma música do Roberto Carlos. Há quem lhe chame a «crise» dos quarenta. Não sei qual delas gosto menos. Eu prefiro chamar-lhe «fase», mas ao mesmo tempo "fase" dá-me a sensação de que é alguma coisa que está mal e que vai passar (e pode não ser o caso).
Seja como for, o certo é que os quarenta, mais do que os trinta, dão-nos a volta ao miolo. E mesmo aquelas pessoas que não ligam muito a essa coisa da «idade», não acredito que não cheguem aos quarenta e não pensem pelo menos um bocadinho no que é que andam aqui fazer, o que é isto de sermos quem somos e todas as questões existenciais que se agarram a este número - que pela primeira vez na nossa vida termina num «enta» e que nos acompanha até aos noventa.
Quando éramos crianças, uma pessoa com quarenta era «velhota». Não se lembram disso? Eu também não me lembrava até ir ao blog da Maria, a filha da Tia, que postou umas fotos de umas mulheres de quarenta anos e lhes chamou descaradamente «velhotas».
Quando li o «velhotas» assaltou-me a ideia de que a «crise» dos quarenta pode ser a criança que há em nós a tentar dizer-nos (desesperadamente?): «olha lá, não achas que já estás a ficar velhota? Aproveita a vida ao máximo. Faz o que te apetece, o que te dá na gana».
Ou seja, a «crise dos quarenta» pode ser a «fase» em que queimamos os últimos cartuchos. Uma «fase» em que voltamos a ser
teenagers – a tal da segunda adolescência –, mas com consciência, sem medos, nem vergonhas, nem merdinhas na cabeça – tão típicas na primeira.
Sei bem que isto tudo são clichés e banalidades e que cada pessoa passa os quarenta à sua maneira, com ou sem medos, com ou sem paranóias, com ou sem merdinhas na cabeça. Mas alguma coisa me diz que uma quarentona é uma
teenager cheia de auto-estima, ou será que estou redondamente enganada e vou acabar a queimar cartuchos sozinha?
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